Para Bauman (1992), a modernidade foi o momento de desenvolvimento de uma ordem racional e de liberdade individual até então não alcançada. O indivíduo pós-moderno vive intensamente o mito da liberdade individual. Segundo Cova 1997, o homem nunca foi tão livre em suas escolhas, mas também nem tão solitário.
A solidão é um fenômeno psicológico com implicações profundas de ordem espiritual, podendo vir acompanhado de inquietação, desânimo, ansiedade, sensação de isolamento e desejo de ser útil a alguém. Ela agrega sentimento de perda e a sensação de que a vida perde propósito e sentido, independentemente de existir ou não isolamento social.
Para Filosofia o grande desafio é transformar a solidão em aliada de nossa realização pessoal. De acordo com a filosofia o ser humano nasce só, sua dor e prazer ele os tem nas entranhas do seu ser, e finalmente morre só.
Para a Sociologia a solidão é o resultado da produção social do indivíduo "Ego-centrado" e "Individualista", que ao afirmar sua individualidade, firma, também, a fragmentação do universo social e o isolamento
Para a Psicanálise a solidão é considerada um mecanismo de defesa, e encontra-se intimamente ligada às doenças mentais, ou seja, aos sintomas neuróticos e psicóticos. A solidão é uma experiência dolorosa que tem assolado pessoas de todas as idades, raças, camadas sociais e crenças, já tendo sido considerado o grande mal deste século. O diagnóstico é do psicólogo americano John T. Cacioppo, diretor do Centro de Neurociência Cognitiva e Social da Universidade de Chicago (EUA) e autor do livro “Solidão: A Natureza Humana e a Necessidade de Vínculo Social”. Nessa obra o autor destaca como a vida moderna facilita a crescente falta de vínculos sociais. O sentimento é acompanhado de uma sensação de abandono, desamparo e angústia. Essa ausência de conexões com o mundo faz com que a pessoa se esqueça dos benefícios que a solidão pode trazer para suas vidas.
Especialistas alertam: "um pouco de solidão pode até ser benéfico quando não necessário". Alguns indivíduos podem sentir-se pressionados pelo tipo de convivência imposto pela pós-modernidade, nesse caso, um pocado de solidão pode ajudar a enfrentar a sensação de desconforto.
Nesta perspectiva podemos compreender a solidão como um estado de consciência no qual nos voltamos para nós mesmos e analisamos nossa vida, nossas relações, sem o peso da culpa, pautada numa análise não crítica, sem julgamentos ou culpas, num movimento de reflexão sobre o que fizemos e as conseqüências de nossas ações. Dessa forma, a solidão pode ser uma oportunidade de autoconhecimento, de descobrirmos do que gostamos, queremos ou precisamos, bem como, dos recursos de que dispomos para alcançar nossos objetivos. É um modo de nos defrontarmos com o tumulto da pós-modernidade.
De acordo com estudiosos no assunto, o perigo é quando a opção pelo isolamento se manifesta sob formas patológicas, acompanhada de depressão, pânico e vícios, danosos à vida em sociedade.
A solidão é um processo necessário para que possamos desenvolver nossa individualidade. O grande paradoxo é que também precisamos nos relacionar com os outros para nos individualizarmos. Esse é o grande dilema da vida pós- moderna, pois a sociedade atual instrumentaliza o homem, supondo dar todos os recursos para uma vida plena, porém, ao mesmo tempo, torna suas relações efêmeras. O resultado é um individualismo cada vez maior.
A Pós-modernidade caracterizou a “sociedade da solidão”, uma solidão nova, intermediada por tecnologia. Um processo em que os indivíduos passam a viver isolados em seus quartos, conectados com seus computadores, enquanto seus familiares estão na sala contígua interligados a outros computadores por meio da internet.
Essa nova configuração cria o espaço para a exacerbação de uma postura individualista apontando o EU como principio e fim de todas as coisas. O EU se vê prisioneiro de uma armadilha que revela sua condição de ser solitário.
A Pós-modernidade engloba uma sociedade de denominações diversas: sociedade das mídias, sociedade da informação, sociedade high-tech, sociedade eletrônica. A dinâmica social dessa sociedade é marcada pela ênfase nas novas tecnologias da informação e possui características que nos levam a entender as novas formas de sociabilidade do “sujeito pós-moderno.
O indivíduo é levado à solidão e lhe são fornecidos mecanismos que fazem com que acredite piamente em uma interação social, mesmo que essa só ocorra por meio de dispositivos técnicos, de forma virtual.
Profa. Dra. Edna Paciência Vietta
Psicóloga Clínica