TDAH e co-morbidades
Esquecimentos, problemas com memória,
distração... Até pouco tempo atrás, quando alguém "aparentemente
normal" não conseguia se concentrar, lembrar do que devia ser feito,
perder prazos ou concluir tarefas, pensava-se tratar de desinteresse, falta de
esforço, ociosidade, vagabundagem, desleixo, indolência, preguiça, até mesmo
malandragem. Hoje, sabe-se que muitas destas pessoas podem sofrer do TDAH -
Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade.
Estima-se que cerca de quatro milhões
de adultos no Brasil são vítimas do TDAH. Esse distúrbio, que associa a
desatenção e a impulsividade com a hiperatividade, é capaz de afetar a
qualidade de vida, trazer problemas de relacionamento na vida pessoal, conjugal
e profissional tanto em adultos quanto em crianças. Se não tratada
adequadamente na infância pode trazer sérios problemas para a vida adulta entre
elas a co-morbidade (outras disfunções que acompanham o TDAH).
Co-morbidade é um termo utilizado para
descrever a ocorrência simultânea de dois ou mais problemas de saúde em um
mesmo indivíduo. Esse é um fenômeno freqüente na prática clínica, e sua
identificação é um fator importante que afeta tanto o prognóstico dos pacientes
como a conduta terapêutica.
São as co-morbidades que dão o colorido
especial a cada portador de TDAH, muitas vezes dificultando ou mascarando seu
diagnóstico. Na vida adulta de um TDAH, as co-morbidades são muito freqüentes,
atingindo mais de 50 % dos portadores, muitas vezes com mais de uma co-morbidade.
O TDAH pode vir acompanhado de: Transtorno de Ansiedade, Transtorno de
Aprendizado, Transtorno Depressivo, Transtorno de Humor Bipolar, Transtorno
Opositivo - Desafiador, Transtorno de Conduta entre outros.
O TDAH se caracteriza pela tríade:
Hiperatividade, Impulsividade e Desatenção. Os três sub-tipos podem se combinar
de várias maneiras com qualquer uma das co-morbidades.
As pessoas com TDAH apresentam, ainda,
uma maior tendência em abusar de drogas. O índice pode chegar a 50%. No caso do
tratamento de dependentes químicos, é fundamental investigar se há diagnóstico
de TDAH. A presença de TDAH dobra o risco para o desenvolvimento de
abuso/dependência de substâncias ao longo da vida, e ambos os transtornos
influenciam-se mutuamente, o que traz implicações para o diagnóstico, o
prognóstico e o tratamento de ambos os transtorno. A pessoa pode utilizar-se de bebidas alcoólicas, maconha
e tranqüilizantes como forma de anestesiar seus pensamentos negativos, sua
depressão, sua agitação e sua ansiedade crônica.
Estudos epidemiológicos realizados em
crianças portadoras de TDAH documentam incidências elevadas de distúrbios
psiquiátricos co-mórbidos, incluindo Transtornos Disruptivos de Comportamento
(Transtorno Opositivo Desafiador, Transtorno de Conduta, Transtorno de
Personalidade Anti-social); Transtorno de Aprendizagem Escolar, Distúrbio da
linguagem: Transtorno de Ansiedade: Transtorno do Humor e Transtorno de Tics.
Além desses,
outros transtornos podem também serem observados com certa freqüência como, por
exemplo, o transtorno alimentar por conta da compulsão que acomete a maioria
dos portadores de TDAH.
Outros transtornos
bastante comuns nesses pacientes são as fobias pelo medo de cometerem gafes, de
serem criticados, ridicularizados, medo dos famosos "brancos",
esquecimentos, ou por outras situações que os exponham de maneira negativa, por
exemplo, na fobia social (medo de estabelecer relações sociais, falar em
público), ou outras fobias como medo de avião, elevador, sangue, tempestade.
Sendo comum a baixa auto-estima, a depressão e até mesmo o Pânico.
Na Adolescência e na idade Adulta os
sintomas do TDAH se modificam, a hiperatividade não se apresenta mais tão
visível passando a ser mais uma sensação de inquietude. No entanto, a
desatenção persiste quase inalterada, embora facilmente disfarçada. Dirigir
veículos, por exemplo, pode se tornar uma atividade de risco para os portadores
de TDAH, que não toleram esperar, por serem muito acelerados e impulsivos
apresentam dificuldades em respeitar regras e sinais de trânsito, tornando-se,
por vezes, imprudentes e, portanto, mais vulneráveis á acidentes.
Por tudo isso, se faz importante o
tratamento precoce. No caso do TDAH adulto é aconselhável o diagnóstico correto
e o tratamento adequado tanto em relação ao TDAH, quando às co-morbidades.
Prof. Dra. Edna Paciência Vietta
Psicóloga Clínica