Hoarding ou Síndrome de Diógenes
“Quem guarda o que não presta, tem o que não precisa”
A princípio, não há nada de errado em
se colecionar ou guardar objetos, a não ser que o acúmulo passe a ser tal que
se torne algo inconveniente, impróprio e incomodo por apresentar problemas de
espaço, de acesso, de organização e higiene às pessoas.
Colecionar pode ser uma atividade interessante, um hobby. Nesse tipo de
atividade o objetivo a ser alcançado é o de ampliar suas coleções (selos,
carros, canetas, etc.). Colecionadores se utilizam desta atividade para
interagirem entre si e trocarem informações o objeto de seu interesse. É,
também, uma forma prazerosa de competir e exibir publicamente e com orgulho
seus espécimes raros. Neste caso, nada há de prejudicial, que possa necessitar
da intervenção de especialistas do comportamento.
No entanto, quando em excesso, em
exagero e descontrolado vira mania (mania de guardar objetos inúteis), e a
prática do colecionismo passa a ser um sintoma de Transtorno mental associado
ao transtorno do Obsessivo-compulsivo e à depressão.
Antropólogos dizem não haver vida,
nem histórias, isentas de objetos. Objetos são elementos mais simbólicos do que
funcionais. Eles são carregados de valor afetivo. Não se trata simplesmente de
possuir coisas, mas principalmente de guardar as memórias que esses objetos
representam. Daí a existência de museus, as coleções de selo, carros, moedas, e
até de pilhas de revistas no canto da estante. Muitos dos acervos de obras de
arte expostas ao público resultam do colecionismo de pessoas abastadas.
Enquanto sintoma, o colecionismo
refere-se a um padrão de comportamento caracterizado pelo acúmulo de objetos
com questionável valor utilitário ou material, associado à intensa dificuldade
para fazer o descarte, resultando ao longo do tempo, em prejuízo da qualidade
de vida do indivíduo.
O transtorno não deve ser
diagnosticado como tal se os itens são colecionados exclusivamente como hobby,
ou se o comportamento não resultar em um ambiente doméstico bagunçado ou não
causar sofrimento ou comprometimento significativos.
Quando identificado como sintomas ou
síndrome (conjunto de sintomas) especialistas afirmam trata-se de uma
perturbação definida por três características principais: coleção obsessiva de
bens ou objetos que parecem inúteis para a maioria das pessoas, incapacidade de
se livrar de qualquer um dos objetos ou bens recolhidos e um estado de aflição
ou de perigo de falta permanente.
Nesses casos, a acumulação compulsiva
— é também chamada de disposofobia e consiste na aquisição ou acumulo ilimitado
de quinquilharias que já foram colocados no lixo. As pessoas que sofrem desta
perturbação, na maioria idosa, (embora também acometa pessoas mais jovens, ou
de bom nível econômico e intelectual) acumulam tudo o que podem para mais tarde
(quem sabe?) solucionar uma “eventual emergência”. Além disso, são incapazes de
descartar objetos ou bens mesmo quando eles são inúteis, perigosos ou
insalubres. Essas pessoas perdem a noção de organização e higiene e a falta de
noção em jogar fora coisas desnecessárias e grande apego por elas.
Em casos graves, o ambiente onde
estas pessoas vivem, torna-se intransitável, entulhadas de lixo e sujeira,
portas e janelas bloqueadas por objetos e papéis empilhados com riscos de
incêndio e infestação de vermes, excrementos e detritos de animais de
estimação.
A acumulação compulsiva ficou
conhecida como Síndrome de Miséria Senil ou Síndrome de Diógenes, em referência
ao filósofo grego, Diógenes de Sinope — que vivia como mendigo, dormia num
barril e recolhia da rua inúmeros objetos sem valor.
O acumulador compulsivo no seu
extremo é, por vezes, apelidado de “colecionador de lixo”, uma vez que reúne
objetos que produzem maus cheiros, atraindo insetos e roedores. Essas pessoas,
também podem juntar livros, revistas, ferramentas, recipientes, metais, móveis,
eletrodomésticos, entre outros materiais, correspondendo à imagem dos
andarilhos que juntam todo o tipo de velharias.
Tal como a maior parte dos
comportamentos obsessivos, a acumulação compulsiva começa de uma maneira lenta
e desenvolve-se de uma forma progressiva. Quase nunca a solução é simples,
isenta de conflitos, hesitação e recaídas. O apoio de especialistas e a
orientação da família são fundamentais.
São criadas estratégias para iniciar
o descarte, classificar o que deve ser mantido e o que pode ser vendido,
reciclado, doado, ou jogado no lixo, sem hesitação. Define-se um limite para o
quanto de cada item poderá ser mantido na casa, qual área deverá ser preservada
para circulação e outros usos que não o armazenamento. O bloqueio do
colecionismo é um projeto amplo, trabalhoso e vale cada minuto do esforço.
Profa. Dra. Edna Paciência Vietta
Psicóloga Ribeirão Preto